quinta-feira, 18 de abril de 2013

O Livro

  - Faça de novo- ele sussurrou.
  John recusou-se.
  - Você sabe o que vai acontecer se você não o fizer - a voz passeava pela sala, o cachorro latia freneticamente. - Me diga garoto, você gosta de viver?
  O barulho do animal cessou. O vidro ensanguentado estilhaçou-se pelo chão de pedra.
  Os dedos frios roçaram na nuca do menino, sua espinha congelou, uma lágrima escorreu pelo rosto inexpressivo.
  Já não havia o que fazer. Todos a quem ele podia manipular estavam espiritualmente acabados.
  Uma volta ao passado:




  Um livro foi achado na rua, já predestinado a um garoto com sonhos gigantes.
  Sua capa, nova, com um título chamativo "Seja o que todos querem ser".
  O livro foi parar na mochila velha de lona, apenas por ser pego, pois na cabeça de John ele era apenas mais um livro de auto-ajuda para pessoas problemáticas.
  Mas lhe provocava o fato de ser algo perdido.
  Será que tinha importância para alguém, e esse alguém sentiria falta disso?
  Então ele chegou ao galpão abandonado para onde fugia todos os dias e leu.
  Vorazmente ele devorou aquelas páginas, desde a história até o final da prática.
  Ele queria aquilo, o que todos queriam.
  Ele queria um escravo, mesmo este sendo demoníaco.
  Apenas do que ele precisava era de almas, o que não era difícil de encontrar, a final, haviam sete bilhões de pessoas no mundo.

  Passadas dez tentativas e dez perdas de sangue, John decidiu cortar o pulso verticalmente.
  Fez dois cortes profundos. E funcionou.
  Dois meses de conquistas, uma vida que ele julgava perfeita, porém com um detalhe: ele já havia pegado almas demais. E ninguém mais diria sim a uma pergunta .
  - Há um modo de continuar comigo, John. Se mate.
  A voz soava amigável, sempre fez parte de um demônio a carisma.
  - Não.
  - Você voltará, apenas se mate do pior modo possível.
  E sempre de um jeito diferente, ele se matava, sentia toda a dor da volta, a dor da ida, a dor da permanência.
  - Sou seu mestre, e te liberto - John deixou a corrente simbólica cair no chão.
  - Não é possível, eu te mantenho vivo, me revogue e morrerá com as dores de todas as almas que tomou.
  - Eu sei que você não pode me matar, está no livro.
  - Tolo, você já está morto. Morreu ao me invocar, e eu te trouxe de volta. Não sou seu escravo, sou seu senhor.

  Desde a primeira tentativa, John esperava ser diferente.
  Digamos que ele conseguiu, e a um alto preço, ouviu-se seu doce último suspiro.

Thays Fontana















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