- Faça de novo- ele sussurrou.
John recusou-se.
- Você sabe o que vai acontecer se você não o fizer - a voz passeava pela sala, o cachorro latia freneticamente. - Me diga garoto, você gosta de viver?
O barulho do animal cessou. O vidro ensanguentado estilhaçou-se pelo chão de pedra.
Os dedos frios roçaram na nuca do menino, sua espinha congelou, uma lágrima escorreu pelo rosto inexpressivo.
Já não havia o que fazer. Todos a quem ele podia manipular estavam espiritualmente acabados.
Uma volta ao passado:
Um livro foi achado na rua, já predestinado a um garoto com sonhos gigantes.
Sua capa, nova, com um título chamativo "Seja o que todos querem ser".
O livro foi parar na mochila velha de lona, apenas por ser pego, pois na cabeça de John ele era apenas mais um livro de auto-ajuda para pessoas problemáticas.
Mas lhe provocava o fato de ser algo perdido.
Será que tinha importância para alguém, e esse alguém sentiria falta disso?
Então ele chegou ao galpão abandonado para onde fugia todos os dias e leu.
Vorazmente ele devorou aquelas páginas, desde a história até o final da prática.
Ele queria aquilo, o que todos queriam.
Ele queria um escravo, mesmo este sendo demoníaco.
Apenas do que ele precisava era de almas, o que não era difícil de encontrar, a final, haviam sete bilhões de pessoas no mundo.
Passadas dez tentativas e dez perdas de sangue, John decidiu cortar o pulso verticalmente.
Fez dois cortes profundos. E funcionou.
Dois meses de conquistas, uma vida que ele julgava perfeita, porém com um detalhe: ele já havia pegado almas demais. E ninguém mais diria sim a uma pergunta .
- Há um modo de continuar comigo, John. Se mate.
A voz soava amigável, sempre fez parte de um demônio a carisma.
- Não.
- Você voltará, apenas se mate do pior modo possível.
E sempre de um jeito diferente, ele se matava, sentia toda a dor da volta, a dor da ida, a dor da permanência.
- Sou seu mestre, e te liberto - John deixou a corrente simbólica cair no chão.
- Não é possível, eu te mantenho vivo, me revogue e morrerá com as dores de todas as almas que tomou.
- Eu sei que você não pode me matar, está no livro.
- Tolo, você já está morto. Morreu ao me invocar, e eu te trouxe de volta. Não sou seu escravo, sou seu senhor.
Desde a primeira tentativa, John esperava ser diferente.
Digamos que ele conseguiu, e a um alto preço, ouviu-se seu doce último suspiro.
Thays Fontana
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sem xingamentos, por favor, e tomem cuidado com a ortografia, eu realmente detesto erros de gramática.