domingo, 27 de maio de 2012

The Miolae

Uma pedra, branca como neve, caiu sobre o ralo gramado do quintal.
Não fez barulho algum, pousou como uma pena. Mas algo estranho ali acontecia.
Estas pedras pálidas continuavam a cair ali, umas sobre as outras, formando um monte crescente.
Como se fosse algum tipo de resíduo, aos poucos elas se desmancharam, e desapareceram.
Uma senhora de idade, conhecida como Dona Malu, pegou a sua surrada varinha e desintegrou de vez todos aqueles pedaços de pedras de um anel de Saturno.
Infelizmente, nem todas as velhas feiticeiras foram avisadas, portanto algumas crianças se infectaram.

A cada vinte e sete anos, um ciclo Miolae - do planeta de Miole -, estas partículas voam pelo espaço e chegam a Terra.
Não apenas um acaso, mas uma milenar maldição dos humanos de Miole sobre os terráqueos.
Descendentes deles habitam nossas imensas terras, e sofrem algum tipo de dano mental e físico a partir de seu primeiro contato com a Huiiany, alma de um rapaz que aparece em sonhos, e ativa a dor da alma, para que assim o ser se renda perante o espírito de seus ancestrais.

Estas esferas brancas servem como um aviso do novo ciclo de vida, que para eles dura 913 anos, e para nós, apenas 31.
Algumas sociedades secretas escondem estas mortes com extrema perfeição. E estas sociedades não impedem que nada seja feito para salvar seja quem for.

Os descendentes sofredores estão espalhados por aí, e sempre acompanhados com esse gatilho frouxo, pronto para ser disparado.

Quem sabe você não é um destes descendentes.
Olhe para trás, e pense se vê aquela criatura macabra com olhos grandes e profundos.
É provável que você não veja, ainda, mas nada impede que um dia isso venha a ocorrer.


O Miolae
Coisas assustadoras sobre mim e o mundo
Thays Adaghinari Fontana 


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mirrors

- Mãe, eu me cortei, me dá um band-aid?
- Aonde você se cortou, filho?
- Não me lembro, já acordei assim.
- Tudo bem - A mãe entrega o band-aid -, mas tome cuidado com isso.
- Pode deixar mãe.

---//---

A marca das mordidas antiga já haviam cicatrizado, mas estas novas não paravam de sangrar.
O garoto devia ter pensado antes de fazer o que fez.
Da última vez, o contrato era de duas semanas e dois favores, mas desta vez ele não pensou antes de selar.
Dois anos, e a criatura seria sua escrava. Mas daquele modo, ele não sobreviveria tanto tempo.

Dois dias depois, ele foi tomar banho, e lá estava a criatura, seca por sangue. Cogitou a ideia de quebrar o contrato, mas as consequencias seriam severas.

Tudo começou há algumas semanas, quando o menino se trancou no banheiro para chorar de manha, por sua mãe não ter lhe dado o videogame que tanto queria.
No espelho, seu reflexo ganhou novos olhares e fez-lhe uma sedutora proposta.
Seu sangue pelo videogame.
"Aceito."
Não sabia o risco que corria.

O demônio sabia muito bem o que fazia.

Quinze meses e lá ele estava, em uma cama de hospital, entre a vida e a morte. 
A quantidade de sangue que ele recebeu não seria o suficiente para os dois.
Então o garoto decidiu.
"Eu não quero mais, não terá mais meu sangue"
Então o demônio lhe observou com um sorriso malicioso, e repetiu:
"Contritionem pactum."
"Contritionem pactum."
"Contritionem pactum."

A patir de agora, a alma daquele garoto seria da criatura.
Sua mãe entrou correndo na sala em que ele estava.
O coração de seu filho não batia mais.
Ali do lado da cama seu vazio espectro se encontrava, agora possuindo olhos negros.
Atrás do espelho de uma casa qualquer, ele aguardava outro humano que faria qualquer coisa por seus bens materiais.

O coração volta a bater.
Ele levanta com um grito abafado.

Volta para sua casa, e lá no espelho está a criatura, que sempre o acompanhará.
Seu espectro desalmado faz com que o garoto sinta um eterno frio, uma eterna dor, e aquele dolorosa certeza de qual seria seu destino assim que seu corpo se desligasse completamente da vida.



Espelhos
Coisas assustadoras sobre mim e o mundo
Thays Adaghinari Fontana